As belezas naturais da cidade do Rio de Janeiro são de tirar o fôlego, não é mesmo? Difícil imaginar que uma atração que não seja ao ar livre possa causar na gente um impacto como essa biblioteca consegue. O Real Gabinete Português de Leitura é uma daquelas jóias escondidas em uma cidade. Uma biblioteca pública que guarda mais de 300 mil livros em estantes expostas por quatro gigantes paredes. Uma visão 360 graus de publicações.
O fluxo de turistas é contínuo. Brasileiros e estrangeiros se desafiam a encontrar os melhores ângulos para fotografar o grande salão. E o movimento só cresce, parte porque em 2014 o Real Gabinete entrou na lista da Revista Time como uma das vinte bibliotecas mais bonitas do mundo.
Real Gabinete Português de Leitura
O começo
A instituição nasceu poucos anos após a independência do Brasil. Foi criada por 43 imigrantes portugueses do Rio que almejavam um espaço para ampliar conhecimentos. Encomendaram livros, compraram manuscritos raros e assinaram periódicos de Lisboa e de outras grandes cidades, que formaram o primeiro acervo da biblioteca.
Nas primeiras cinco décadas, a biblioteca ocupou outros prédios no centro do Rio, sempre em busca de lugares maiores para abrigar o crescimento do acervo. No início da década de 1880, já contabilizavam 50 mil títulos. Foi naquela época que foi construída uma sede própria, o incrível edifício que o Gabinete está até hoje. Era um grande marco para o Rio e para a sociedade. A inauguração foi em 1887 e contou com a ilustre presença da Princesa Isabel.
Arquitetura
Não há como negar que a arquitetura do edifício chama atenção tanto por quem passa pela porta como por quem explora o grande salão da biblioteca. A construção é no estilo neomanuelino. É o mesmo do Mosteiro dos Jerônimos e da Torre de Belém, em Lisboa. O arquiteto foi o português Rafael da Silva Castro.
Fique atento a alguns detalhes na fachada: quatro estátuas esculpidas homenageiam Pedro Álvares Cabral, Luís de Camões, Infante Dom Henrique e Vasco da Gama. E a pedra usada na área externa foi talhada em Lisboa.
No interior, uma grande clarabóia no centro do salão principal se torna um dos destaques internos. Mas as imponentes estantes que ocupam todas as paredes do salão abrigando os 300 mil livros são as atrações principais.
O local sempre foi usado além das funções de biblioteca. Eventos de destaque, entre eles banquetes, cerimônias de homenagens e recepção de personalidades, lançamentos, foram realizados lá e fizeram parte de momentos históricos.
Personalidades importantes da história e arte do Brasil passaram pelo Gabinete. Além da Princesa Isabel, olha quem já esteve em algum evento desses: Cecília Meireles, Getúlio Vargas, Vinícius de Moraes e Manuel Bandeira são alguns exemplos.
Acervo e obras raras
Em 1900, o Real Gabinete se tornou uma biblioteca pública, como é classificada até hoje. Qualquer pessoa pode ter acesso a leitura da grande maioria dos livros. O acervo está informatizado e pode ser acessado online.
Há também algumas obras raras e manuscritos. Parte está exposta no salão principal protegidos por vidros. E há também os títulos que podem ser consultados por pesquisadores com autorização especial. Entre elas, está a edição “prínceps” de Os Lusíadas, de 1572, que pertenceu à Companhia de Jesus, e os manuscritos de Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco.
Os desafios nos 180 anos
Já são 130 anos de história na sede própria. E os desafios para manter tudo funcionando bem como aconteceu até agora são grandes. Principalmente porque há um aniversário especial pela frente, os 180 anos da criação do Real Gabinete, que será celebrado em 14 de maio de 2017.
O atual presidente da instituição, o senhor Francisco Gomes da Costa, assumiu a posição no ano passado. Ele liderou algumas grandes atividades, como uma restauração da fachada e do interior do prédio, além de uma expansão.
As infiltrações eram os maiores problemas e ameaçavam o precioso acervo. Não havia como fugir mais da necessidade da restauração do prédio. E não foi fácil conseguir os cerca de 8 milhões de reais para realizá-la. O local sobrevive de doações de outras instituições e colaborações dos sócios. A restauração está quase no fim, e o grande salão da biblioteca já foi reaberto em dezembro de 2016. A previsão é que até maio esteja tudo pronto, ainda faltam alguns detalhes da fachada.
No dia 15 de março de 1935, o governo português decretou que o Real Gabinete teria o benefício de receber a partir daquela data todos os livros editados em Portugal. Essa ação chama “depósito legal”. Macau, também ex-colônia portuguesa recebeu o mesmo privilégio. Mas atualmente apenas o Real Gabinete mantém essa atividade. Ou seja, essa biblioteca tem uma atualização dos títulos incrível.
Mas isso também gerou um problema, pois são milhares de livros novos a cada ano. Não havia mais como armazená-los. Mas a instituição adquiriu o terreno ao lado e adaptou o espaço para receber de forma segura todos os livros novos. Cabem cerca de 180 mil títulos, o que resolve o problema por pelo menos 40 anos. O público não poderá ter acesso ao espaço mas se solicitado aos bibliotecários poderão consultar os títulos para estudos e pesquisas.
Visite o Real Gabinete
- A entrada é bem facilitada: gratuita e não exige cadastro, somente se a intenção for ter acesso a algum livro para leitura. Lembrando que há títulos que somente com autorização especial para ter acesso;
- Leve a máquina fotográfica, é permitido tirar fotos internas;
- O local é uma biblioteca pública, por mais que o grande fluxo seja de turistas, pode ter pessoas estudando no local. Lembre-se de fazer silêncio.
Real Gabinete Português de Leitura
Local: Rua Luís de Camões, 30, Centro, Rio de Janeiro – RJ
Horários: de segunda a sexta, das 9h às 18h
Telefone: (+55 21) 2221-3138
www.realgabinete.com.br
A foto lindíssima que ilustra a capa desse artigo é do fotógrafo Edu Mendes.