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Quinta da Pacheca: uma vinícola de charme no Douro

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Confesso: nunca fui de beber nada alcoólico. Mas, desde que me mudei para Portugal com o Rafa, o meu paladar se transformou. Por aqui, o vinho passou a ter uma importância não somente social, como também histórica e de conhecimento na nossa rotina. Então, prepare-se para acompanhar aqui no Cultuga também as nossas experiências e descobertas desse universo tão rico e interessante da cultura do vinho português.

Ver de perto o solo e os rios, além de visitar e ouvir a trajetória das vinícolas (chamadas de “quintas” em Portugal) é um programa que cabe em qualquer roteiro para Portugal, seja qual for a parte que você escolheu visitar. De norte a sul do país, e também na Ilha da Madeira, há uma infinidade de vinhos para provar e conhecer e não é um programa caro.

Onde bate o coração do Alto Douro Vinhateiro

O Alto Douro Vinhateiro, localizado a cerca de 100km do Porto, é a única região em que se pode produzir o Vinho do Porto. Isso porque as características climáticas e do solo são únicas. A plantação de uvas para fazer vinho, por aqui, é mais antiga do que a própria história de Portugal, com 2 mil anos. Entretanto, essa demarcação, feita por Marquês de Pombal, tem pouco mais de 250 anos e, em 2001, foi reconhecida como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.

Além dos diversos tipos de Vinho do Porto, também se produz por aqui o chamado Vinho do Douro. E foi em uma das principais vinícolas dessa região, que produz Porto e Douro, que iniciamos a nossa visita apaixonante: na Quinta da Pacheca.

Apaixone-se por Portugal e pela região do Douro com o nosso roteiro personalizado

Como chegar a Quinta da Pacheca

Chegar a Quinta da Pacheca é bastante simples. De carro, a partir do Porto, você pode seguir pela A4, sentido Vila Real, e depois descer pela A24 para o Peso da Régua. Atravessando a ponte, você já encontra as indicações. São, aproximadamente, 100km. Entretanto, se você quiser ir de trem (e o trajeto é lindíssimo – um dos mais famosos do país), basta pegar o transporte na estação Porto – São Bento, sentido Régua. Há um trem interregional que vai direto em alguns horários do dia ou então você poderá pegar uma parte do trecho com o trem urbano e seguir com o interregional até o fim do percurso (é uma baldeação bastante simples). A viagem demora algo entre 2h – 2h30. A partir da estação da Régua, você pode pegar um táxi. São 5 minutinhos até a Quinta, pouco mais de 3km.

Quando visitar?

Quinta da Pacheca

Quinta da Pacheca

Escolhemos visitar a região do Vale do Douro na segunda quinzena de novembro, uma época com baixo fluxo de turistas, mas com uma beleza de outono de tirar o fôlego. O risco de pegar uma chuva mais forte existia, mas como estávamos acompanhando na previsão do tempo o aumento das temperaturas no chamado “verão de São Martinho”, tivemos alguma sorte. Pudemos contemplar o alaranjado das vinhas (as plantações de uva) e vivenciar um pouco dessa fase também importante para o ciclo do vinho. Com bastante frio, mas sem chuva.

Essa região pode ser visitada o ano todo. Entretanto, no inverno, é um pouco mais difícil. Para alcançar as vinícolas e visitá-las, dias de chuva intensa não são nada amigáveis na estrada e também no passeio. Dê preferência para primavera, verão e outono. Se você puder escolher um mês, vá em setembro – na chamada época das vindimas. É nesse mês que as uvas são colhidas e há diversas atividades que você poderá participar na região, desde ajudar na colheita até fazer a pisa das uvas. É delicioso e divertidíssimo.

Por dentro da Quinta da Pacheca

Entrada da Quinta da Pacheca

Entrada da Quinta da Pacheca

O corredor de árvores cercado por uma imensa plantação de uvas acolhe o visitante logo na entrada. Marcamos uma visita com a Sandra Dias, responsável pelo enoturismo da Quinta da Pacheca, e a encontramos ali, junto a lojinha. Já fica o aviso: se você quiser conhecer a Quinta da Pacheca ou qualquer outra vinícola da região, é ideal sempre contactá-los com antecedência e fazer o agendamento. Isso garante uma visita em português e bem organizada.

A Sandra nos levou para conhecer todas as dependências, contando detalhes de uma história iniciada há séculos com a Sra. Mariana Pacheco Pereira, contemporânea de Adelaide Ferreira, a Ferreirinha – mulheres que marcaram a região do Vale do Douro por serem empresárias de fibra e com grande influência local. A quinta ganhou esse nome porque a Sra. Mariana queria justamente marcar essa força feminina, chamando-a de “Pacheca”.

A casa principal e o hotel

Quinta da Pacheca

Quinta da Pacheca

Entrar nesse universo é apaixonante e encantador. Embarcamos em uma viagem no tempo conhecendo, primeiro, a casa principal da Pacheca, onde também estão os 15 quartos de hóspedes (sim, você também pode se hospedar aqui e ter a experiência de dormir em uma vinícola!) e a sala do restaurante. Os mobiliários e as esculturas históricas dividem espaço com o conforto e o charme da decoração.

O que mais nos impressionou foi uma estante imensa, possivelmente do século XVI, vinda do Brasil. O respeito e o carinho por essa peça foi tamanha, que a sala foi toda construída e decorada em sua função. Nas prateleiras, estão também muitas raridades da coleção de Bordallo Pinheiro – um dos artistas portugueses mais criativos e ousados de sua época.

Essa estante é uma das preciosidades da Quinta da Pacheca

Essa estante é uma das preciosidades da Quinta da Pacheca

Nos corredores, vimos ainda uma escultura que sobreviveu as Invasões Francesas e foi descoberta no meio da propriedade, um piano antigo bastante interessante, além de uma das poucas bibliotecas giratórias existentes em Portugal – tudo isso propriedade da família Serpa Pimentel, responsável pela Quinta.

Marco Pombalino e Biblioteca Giratória

Marco Pombalino e Biblioteca Giratória

Piano: mais uma das raridades do acervo da Quinta da Pacheca

Piano: mais uma das raridades do acervo da Quinta da Pacheca

A Quinta da Pacheca é uma das únicas vinícolas da região que é plana, sem plantações de uvas em socalcos (aqueles famosos “degraus” que vemos na paisagem do Douro). Por isso, de dentro da casa, a vista que se tem é mais interiorana e acolhedora.

Os quartos são diferentes uns dos outros e, recentemente, os banheiros foram remodelados para um projeto mais fino e atual. Durante todo esse inverno, mais uma casa da Quinta – originalmente usada para artigos agrícolas – será transformada em hospedagem, aumentando em 12 novos quartos.

Um dos quartos da Quinta da Pacheca

Um dos quartos da Quinta da Pacheca

Um dos quartos da Quinta da Pacheca

Mais um dos quartos da Quinta da Pacheca

Lagares: colheita das uvas, produção do vinho e provas

Um outro item que merece destaque é um dos Marcos Pombalinos que ali se encontra. Como disse no início desse texto, a região do Douro foi demarcada por Marquês de Pombal para a produção de Vinho do Porto. Tal marcação foi feita com pequenos pilares de pedra – não necessariamente dentro das Quintas, mas por toda a região que seria estudada e explorada. Aqui, então, é um dos locais em que você poderá ver uma dessas pedras originais.

Seguimos, então, para os lagares – que estavam limpinhos. A produção de vinho é feita no mês de setembro, quando as uvas estão prontas para a colheita. Durante as chamadas “vindimas”, a enóloga e o engenheiro agrícola da Pacheca comandam, incansavelmente, todo o processo.

Lagares da Quinta da Pacheca

Sandra e Rafael nos lagares da Quinta da Pacheca

Um dos lugares que a prova pode ser feita

Um dos lugares em que a prova pode ser feita – geralmente nos dias de calor

São 54 hectares com as divisões bem marcadas de cada casta. Assim que a uva amadurece, os profissionais da Quinta verificam suas condições – se para um vinho tinto ou um Porto, por exemplo. Em um mesmo dia, parte das uvas são colhidas, colocadas em um tapete para a seleção e já vão pré esmagadas, sem o cacho, para os lagares. Elas são pisadas por 12 homens, da forma tradicional, durante 3 ou 4 horas consecutivas. Esse processo acontece por alguns dias, dependendo do tipo de vinho que será feito.

Os 12 lagares ficam, praticamente, todos os dias do mês de setembro em atividade. Hóspedes e visitantes também podem participar de parte dessas etapas. Para a época, há um programa especial e bem animado que inclui o figurino (com chapéu, calções e lenço para o pescoço), um reforçado café da manhã, a tesoura e o balde para a colheita, toalha para lavar as pernas antes e depois de pisar as uvas, um bom almoço regional e, por fim, a prova de vinhos com uma visita guiada a Quinta – tudo isso regado a boa música tradicional portuguesa e uma paisagem de tirar o fôlego.

Para os demais dias do ano, ainda há a visita a cave e a possibilidade de engarrafar o seu próprio vinho com rótulo personalizado. Mediante agendamento e disponibilidade da Quinta, é montada uma pequena linha de engarrafamento para que o visitante possa ter mais essa experiência, além da visita guiada e da prova – que acontecem em diversos locais do espaço, de acordo com o tempo.

Quer um suvenir especial em Portugal? Veja a nossa dica!

Os vinhos da nossa prova

Os vinhos (maravilhosos) da nossa prova

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Com tanto frio, fizemos a prova na lojinha. A Sandra nos deu a conhecer três rótulos da casa, que nos impressionaram bastante. Foram eles: Pacheca Douro DOC – Reserva 2011 (que, segundo a Sandra, “não se bebe. Come-se”), Pacheca Porto Branco (que tinha um tom dourado hipnotizante) e o Pacheca Porto Tawny 20 Anos – que dispensa apresentações, por sua imensa qualidade. Uma boa forma de terminar esse passeio, com pouco mais de 1h30 de duração, pela magia de um pequeno pedaço do Vale do Douro.

Esse é um artigo original do Cultuga. Leia o post completo em: Quinta da Pacheca: uma vinícola de charme no Douro


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